ARTIGOS
Freud está vivo!
Entrevista: Adam Phillips
O texto presente foi retirado de uma entrevista dada à revista Veja, (12/03/03).
O Inglês Adam Phillips, de 48 anos, tem se dedicado a uma tarefa histórica: a organização da segunda tradução do alemão para o inglês da obra de Sigmund Freud.
Autor de dez livros e reconhecido como um dos grandes ensaístas de sua geração, Phillips trabalhou no sistema de saúde inglês durante dezessete anos. Separado e pai de uma menina de 8 anos, hoje atende apenas em um consultório localizado no charmoso bairro de Notting Hill, em Londres, de onde deu a seguinte entrevista a Veja.
Veja - Muitas crianças têm agenda lotada de compromissos. Há tempo para ser criança no mundo atual? Phillips - Com certeza não. As crianças entram na corrida pelo sucesso muito cedo e ficam sem tempo para sonhar. Há grande ansiedade da parte dos pais em relação ao futuro. Essa pressão está literalmente enlouquecendo muitas crianças. A decisão sobre a profissão está acontecendo cada vez mais cedo. No século XIV, se as pessoas fossem perguntadas sobre o que queriam da vida, diriam que buscavam a salvação divina. Hoje a resposta é: "ser rico e famoso". Existe uma espécie de culto que faz com que as pessoas não consigam enxergar o que realmente querem da vida. Veja - Do ponto de vista dos pais, não é legítimo o desejo de sucesso e riqueza para os filhos? |
Veja - O senhor consegue atingir esse equilíbrio com sua filha de 8 anos? Phillips - Acho que sim. Não fico tentando entender tudo que minha filha faz e diz. Estou mais preocupado em que se divirta. Não acredito num planejamento milimétrico para o futuro de uma criança, como se tudo pudesse ser programado. Veja - Há alguns anos se fala da necessidade de dar limites aos filhos. Por que os pais acham essa tarefa tão difícil? |
Veja - Como os pais podem resolver esse problema? Phillips - Resolver o problema é algo muito ambicioso. O que podemos fazer é instruir em que vivemos. O que está a nosso alcance é ensiná-los a ser críticos. Mostrar que as propagandas não são ordens e devem ser analisadas. Será que realmente precisamos de tal coisa? Será que é a melhor opção? Será que tal comportamento é o melhor? Outro problema é a incapacidade dos adultos de ser adultos. Os pais também devem aprender a ser odiados pelos filhos em algumas ocasiões. Muitas pessoas têm filhos porque acham que o nascimento deles é uma garantia de que serão amados de forma incondicional e eterna. Por isso, têm receio do ódio e da desaprovação deles. Tratam crianças como se fosse adultos. Uma coisa precisa ficar clara de uma vez por todas: embora reclamem, as crianças dependem do controle dos adultos. Quando não têm esse controle, sentem-se completamente poderosas, mas ao mesmo tempo perdidas. Hoje há muitos pais com medo dos próprios filhos. |
Cuiabá, 13 de março de 2003
Compilação de Textos dos Parâmetros Curriculares Nacionais
"Desde o início da década de 80, o ensino de Língua Portuguesa na escola tem sido o centro da discussão acerca da necessidade de melhorar a qualidade da educação no País. No ensino fundamental, o eixo da discussão, no que se refere ao fracasso escolar, tem sido a questão da leitura e da escrita."
"Por outro lado, a dificuldade dos alunos universitários em compreender os textos propostos para leitura e organizar idéias por escrito de forma legível levou universidades a trocar os testes de múltipla escolha dos exames vestibulares por questões dissertativas e a não só aumentar o peso da prova de redação na rota final como também a dar-lhe um tratamento praticamente eliminatório".
Essas evidências de fracasso escolar apontam a necessidade da reestruturação do ensino de Língua Portuguesa, com o objetivo de encontrar formas de garantir, de fato, a aprendizagem da leitura e da escrita.
"No início dos anos 80, começaram a circular, entre educadores, livros e artigos que davam conta de uma mudança na forma de compreender o processo de alfabetização; deslocavam a ênfase habitualmente posta em "como se ensina" e buscavam descrever "como se aprende". Tiveram grande impacto os trabalhos que relatavam resultados de investigações, em especial a psicogênese da língua escrita.
Trata-se, sobretudo, da pesquisa sobre quais idéias (ou hipóteses) as crianças constroem sobre a língua escrita ao tentar compreendê-la."
"Os resultados dessas investigações também permitiram compreender que a alfabetização não é um processo baseado em perceber e memorizar, e, para aprender a ler e a escrever, o aluno precisa construir um conhecimento de natureza conceitual: ele precisa compreender não só o que a escrita representa, mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem."
"Os esforços pioneiros de transformação da alfabetização escolar consolidaram-se, ao longo de uma década, em práticas de ensino que têm como ponto tanto de partida quanto de chegada o uso da linguagem. Práticas que partem do uso possível aos alunos e pretendem provê-los de oportunidades de conquistarem o uso desejável e ficaz. Em que a razão de ser das propostas de leitura e escuta é a compreensão ativa e não a decodificação e o silêncio. Em que a razão de ser das propostas de uso da fala e da escrita é a expressão e a comunicação por meio de textos e não a avaliação da correção do produto. Em que as situações didáticas têm como objetivo levar os alunos a pensarem sobre a linguagem para poderem compreendê-la e utilizá-la adequadamente."
"Ser um usuário competente da escrita é, cada vez mais, condição para a efetiva participação social."
"Mas não são os avanços do conhecimento científico por si mesmos que produzem as mudanças no ensino. As transformações educacionais realmente significativas - que acontecem raramente - têm suas fontes, em primeiro lugar, na mudança das finalidades da educação, isto é, acontecem quando a escola precisa responder a novas exigências da sociedade, por um ensino mais eficaz. Esses Parâmetros Curriculares Nacionais pretendem contribuir nesse sentido."
Alfabetização e Ensino da Língua
"É habitual pensar sobre a área de Língua Portuguesa como se ela fosse um foguete de dois estágios: o primeiro para se soltar da Terra e o segundo para navegar no espaço. O primeiro seria o que já se chamou de "primeiras letras", hoje alfabetização, e o segundo, aí sim, o estudo da língua propriamente dita.
Durante o primeiro estágio, previsto para durar em geral um ano, o professor deveria ensinar o sistema alfabético de escrita (a correspondência fonográfica) e algumas convenções ortográficas do português - o que garantiria ao aluno a possibilidade de ler e escrever por si mesmo, condição para poder disparar o segundo estágio do metafórico foguete. Esse segundo estágio se desenvolveria em duas linhas básicas: os exercícios de redação e os treinos ortográficos e gramaticais.
O conhecimento atualmente disponível recomenda uma revisão dessa metodologia e aponta para a necessidade de repensar sobre teorias e práticas tão difundidas e estabelecidas, que, para a maioria dos professores, tendem a parecer as únicas possíveis.
Por trás da prática em dois estágios, está a teoria que concebe a capacidade de produzir textos como dependente da capacidade de grafá-los de próprio punho. Na antiguidade grega, berço de alguns dos mais importantes textos produzidos pela humanidade, o autor era quem compunha e ditava para ser escrito pelo escriba; a colaboração do escriba era transformar os enunciados em marcas gráficas que lhes davam a permanência, uma tarefa menor, e esses artífices pouco contribuíram para a grandeza da filosofia ou do teatro grego.
A compreensão atual da relação entre a aquisição das capacidades de redigir e grafar rompe a crença arraigada de que o domínio do bê-á-bá seja pré-requisito para o início do ensino de língua e nos mostra que esses dois processos de aprendizagem podem e devem ocorrer de forma simultânea. Um diz respeito à aprendizagem de um conhecimento de natureza notacional: a escrita alfabética; o outro se refere à aprendizagem da linguagem que se usa para escrever.
A conquista da escrita alfabética não garante ao aluno a possibilidade de compreender e produzir textos em linguagem escrita. Essa aprendizagem exige um trabalho pedagógico sistemático. Quando são lidas histórias ou notícias de jornal para crianças que ainda não sabem ler e escrever convencionalmente, ensina-se a elas como são organizados, na escrita, estes dois gêneros: desde o vocabulário adequado a cada um, até os recursos coesivos que lhes são característicos. Um aluno que produz um texto, ditando-o para que outro escreva, produz um texto escrito, isto é, um texto cuja forma é escrita ainda que a via seja oral. Como o autor grego, o produtor do texto é aquele que cria o discurso, independentemente de grafá-lo ou não. Essa diferenciação é que torna possível uma pedagogia de transmissão oral para ensinar a linguagem que se usa para escrever."
O Texto Como Unidade de Ensino
"O Ensino da Língua Portuguesa tem sido marcado por uma sequenciação de conteúdos que se poderia chamar de aditiva: ensina-se a juntar sílabas (ou letras) para formar palavras, a juntar palavras para formar frases e a juntar para formar textos."
Essa abordagem aditiva levou a escola a trabalhar com "textos" que só servem para ensinar a ler. "Textos" que não existem fora da escola e, como os escritos das cartilhas, em geral, nem sequer podem ser considerados textos, pois não passam de simples agregados de frases.
Se o objetivo é que o aluno aprenda a produzir e a interpretar textos, não é possível tomar como unidade básica de ensino nem a letra, nem a sílaba, nem a palavra, nem a frase que, descontextualizadas, pouco têm a ver com a competência discursiva, que é questão central. Dentro desse marco, a unidade básica de ensino só pode ser o texto, mas isso não significa que não se enfoquem palavras ou frases nas situações didáticas específicas que o exijam.
Um texto não se define por sua extensão. O nome que assina um desenho, a lista do que deve ser comprado, um conto ou um romance, todos são textos. A palavra "pare", pintada no asfalto em um cruzamento, é um texto cuja extensão é a de uma palavra. O mesmo "pare", numa lista de palavras começadas com "p", proposta pelo professor, não é nem um texto nem parte de um texto, pois não se insere em nenhuma situação comunicativa de fato.
Analisando os textos que costumam ser considerados adequados para os leitores iniciantes, novamente aparece a confusão entre a capacidade de interpretar e produzir discurso e a capacidade de ler sozinho e escrever de próprio punho. Ao aluno são oferecidos textos curtos, de poucas frases, simplificados, às vezes, até o limite da indigência.
Essa visão do que seja um texto adequado ao leitor iniciante transbordou os limites da escola e influiu até na produção editorial: livros com uma ou duas frases por página e a preocupação de evitar as chamadas "sílabas complexas". A possibilidade de se divertir, de se comover, de fruir esteticamente num texto desse tipo é, no mínimo, remota. Por trás da boa intenção de promover a aproximação entre crianças e textos há um equívoco de origem: tenta-se aproximar os textos das crianças - simplificando-os - , no lugar de aproximar as crianças dos textos de qualidade.
Não se formam bons leitores oferecendo materiais de leitura empobrecidos, justamente no momento em que as crianças são iniciadas no mundo da escrita. As pessoas aprendem a gostar de ler quando, de alguma forma, a qualidade de suas vidas melhora com a leitura."
Aprendizado Inicial da Leitura
"É preciso superar algumas concepções sobre o aprendizado inicial da leitura. A principal delas é a de que ler é simplesmente decodificar, converter letras em sons, sendo a compreensão conseqüência natural dessa ação. Por conta desta concepção equivocada a escola vem produzindo grande quantidade de "leitores" capazes de decodificar qualquer texto, mas com enormes dificuldades para compreender o que tentam ler.
O conhecimento atualmente disponível a respeito do processo de leitura indica que não se deve ensinar a ler por meio de práticas centradas na decodificação. Ao contrário, é preciso oferecer aos alunos inúmeras oportunidades de aprenderem a ler usando os procedimentos que os bons leitores utilizam. É preciso que antecipem, que façam inferências a partir do contexto ou do conhecimento prévio que possuem, que verifiquem suas suposições - tanto em relação à escrita, propriamente, quanto ao significado. É disso que se está falando quando se diz que é preciso "aprender a ler, lendo": de adquirir o conhecimento da correspondência fonográfica, de compreender a natureza e o funcionamento do sistema alfabético, dentro de uma prática ampla de leitura. Para aprender a ler, é preciso que o aluno se defronte com os escritos que utilizaria se soubesse mesmo ler - com os textos de verdade, portanto. Os materiais feitos exclusivamente para ensinar a ler não são bons para aprender a ler: têm servido apenas para ensinar a decodificar, contribuindo para que o aluno construa uma visão empobrecida da leitura.
De certa forma, é preciso agir como se o aluno já soubesse aquilo que deve aprender. Entre a condição de destinatário de textos escritos e a falta de habilidade de, com a ajuda dos já leitores, aprender a ler pela prática da leitura. Trata-se de uma situação na qual é necessário que o aluno ponha em jogo tudo que sabe para descobrir o que não sabe, portanto, uma situação de aprendizagem. Essa circunstância requer do aluno uma atividade reflexiva que, por sua vez, favorece a evolução de suas estratégias de resolução das questões apresentadas pelos textos."
"Para aprender a ler, portanto, é preciso interagir com a diversidade de textos escritos, testemunhar a utilização que os já leitores fazem deles e participar de atos de leitura de fato; é preciso negociar o conhecimento que já se tem e o que é apresentado pelo texto, o que está atrás e diante dos olhos, recebendo incentivo e ajuda de leitores experientes."
"As pesquisas na área da aprendizagem da escrita, nos últimos vinte anos,têm provocado uma revolução na forma de compreender como esse conhecimento é construído. Hoje já se sabe que aprender a escrever envolve dois processos paralelos: compreender a natureza do sistema de escrita da língua - os aspectos notacionais - e o funcionamento da linguagen que se usa para escrever - os aspectos discursivos; que é possível saber produzir textos sem saber grafá-los e é possível grafar sem saber produzir; que o domínio da linguagem escrita se adquire muito mais pela leitura do que pela própria escrita; que não se aprende a ortografia antes de se compreender o sistema alfabético de escrita; e a escrita não é o espelho da fala."
"Compreendida como um complexo processo comunicativo e cognitivo, como atividade discursiva, a prática de produção de textos precisa realizar-se num espaço em que sejam consideradas as funções e o funcionamento da escrita, bem como as condições nas quais é produzida: para que, para quem, onde e como se escreve."
Cuiabá, 11/03/2003
Meninos e Meninas
Anna Paula Buchalla
Cuiabá, 05 de Setembro de 2003
Senhores Pais,
"ESTÁ TUDO ERRADO"
Um terapeuta faz sucesso ao pregar que os meninos
devem ser educados de modo diferente do das meninas
O Terapeuta familiar Steve Biddulph é extremamente popular na Austrália, país onde mora desde a adolescência, quando deixou a Inglaterra.
Sua fama ganhou o mundo com o manual de auto-ajuda Criando Meninos. Ao todo, foram mais de 2 milhões de cópias vendidas. No Brasil, o livro atingiu a marca de 30 000 exemplares e está na lista de Veja. A editora Fundamento, que publica os livros de Biddulph no país, acaba de lançar mais quatro títulos do autor. Entre eles, outro best-seller: O Segredo das Crianças Felizes. Juntos, seus cinco livros já somaram 11 milhões de exemplares vendidos ao redor do mundo. Biddulph se tornou um sucesso, entre outros motivos, por que diz a pais e mães que meninos e meninas precisam ser criados de forma diferente, seja em casa ou na escola. É uma ducha de água fria na psicopedagogia moderna, que, desde os anos 60, martela a idéia de que as crianças dos dois sexos devem ter uma educação absolutamente igual. A maior diferença, enfatiza Biddulph, está no processo de desenvolvimento cerebral. No caso dos meninos, ele é mais lento, especialmente no que se refere à verbalização e à habilidade manual. Quando entra na escola, boa parte dos meninos apresenta-se defasada em até um ano em relação às meninas. Por esse motivo, o autor sugere que deveria ser considerada a hipótese de atrasar o ingresso dos garotos na 1ª série.
Criando Meninos parte do princípio de que, se o mundo precisa de homens melhores, é bom que se comece a tratar os meninos com mais compreensão e atenção. O livro avança em temas como os efeitos da testosterona no comportamento dos garotos e a descoberta da masculinidade. Aqui, Biddulph é incisivo: defende a importância de uma presença masculina forte e exemplar na vida dos meninos e afirma que os pais erram ao esperar dos pequenos que eles se tornem homens sozinhos. Pior do que isso, muitos estimulam seus filhos a adotar comportamentos grosseiros, como se isso fosse sinônimo de virilidade. É como se, ao educar um menino para ser gentil, o pai estivesse ferindo os princípios da masculinidade. "Os equívocos cometidos por pais e educadores são tão grandes que já se refletem em aspectos bem concretos", disse Biddulph a VEJA. Para o autor, os erros na formação dos garotos resultam em adultos inseguros emocionalmente e frustrados do ponto de vista profissional. "Os meninos, enfim, estão sendo criados para ser simplesmente máquinas de fazer dinheiro ou estúpidos bebedores de cerveja", resume.
ELAS E ELES
- Quando entram na escola, muitos meninos estão até um ano atrás das meninas no que se refere ao desenvolvimento das habilidades manuais e de expressão verbal. Segundo Steve Biddulph, o ideal é que os pais discutam com os professores da pré-escola se o seu filho deveria esperar mais um ano antes de ingressar na 1ª série.
- Como os meninos têm movimentos de sintonia fina menos desenvolvidos do que o das meninas, seus gestos tendem a ser bruscos. Brincadeiras corporais, como as de luta, os ajudam a adquirir autocontrole. É errado tentar aboli-las totalmente.
- Enquanto as meninas vivem rodeadas por mulheres durante o crescimento, os meninos convivem pouco com os homens - em geral, são eles que passam mais tempo longe de casa. A falta de referência masculina adulta pode prejudicar a sua formação. Estimule seu filho a passar mais tempo com tios e avós.
Educando os filhos nos dias atuais
Cuiabá, 28 de Agosto de 2003
Aos Senhores Pais, com carinho:
Acredito que nunca esteve tão difícil educar filhos como nesses dias de verdadeiro redemoinho nos princípios básicos que sustentam nossa sociedade. Assisti recentemente a uma palestra onde, em certo momento, a palestrante deixou no ar a seguinte pergunta, o que é ser homem na sua casa? E então lembrei-me o que minha mulher e eu sempre dizemos aos nossos filhos, apesar da pouca idade deles. Procuramos ensinar a nossos filhos que não basta ter nascido homens, eles precisam ser machos. Mas antes que alguma crítica seja feita, deixe-me explicar qual o conceito de macho a que estou me referindo. Nós ensinamos a eles que ser macho é respeitar o próximo, é respeitar os mais velhos, é ser delicado com as pessoas, é saber que homens respeitam e tratam com gentileza as mulheres. Ser macho é antes de entrar no elevador, esperar que as pessoas mais velhas passem à frente, e não responder aos mais velhos e não usar palavrões.
Procuramos ensinar a nossos filhos que ser macho é saber dizer não ao que é errado, mesmo que nesses momentos eles fiquem sozinhos do lado contrário à maioria; ser macho é ter opinião diferente sobre determinados assuntos sem o receio de ser chamado de babaca. Ser macho é conseguir se sensibilizar com os detalhes e as mazelas da vida e assim aprender a chorar. Ser macho é ser alegre, animado e forte sem precisar do apoio do álcool ou das drogas. É se declarar não fumante em meio a uma estarrecedora população de jovens fumantes. Ser macho é não ter medo de preconceitos e declarar amor a Jesus Cristo em meio a uma sociedade incrédula.
Concordo absolutamente que criar filhos é um privilégio, mas também é um compromisso assumido perante Deus. Arregacem as mangas, porque criar filhos dá trabalho. Dá trabalho chegar em casa cansado, ir ao quarto deles para saber se passam bem o dia e dizer-lhes - tive saudades, ou - eu te amo. Dá trabalho ver se as tarefas escolares ficaram prontas e corretas. Dá trabalho levá-los alguns dias da semana à escola. Dá trabalho ir conhecer a professora dos seus filhos para que ela saiba que eles têm pai e mãe, dá trabalho conhecer os pais e os colegas de seus filhos. Dá trabalho não deixar que saiam para qualquer lugar, com qualquer pessoa e voltar a qualquer hora. Dá trabalho levá-los à festinha e ir buscá-los às duas ou três horas da madrugada.
Dá trabalho deitar ao lado deles e ficar ali, sentindo o cheirinho deles, mesmo que já tenham crescido. Dá trabalho, mas não dá para fazer de conta que não é com a gente. Sabem qual é o resultado da falta de tudo isto que foi comentado acima? É só abrir os jornais ou ligar a TV. Colega matando colegas e professores, neto matando avó, filho matando pai, pai matando filho, crianças entregues à própria sorte...Como aconteceu recentemente! Duas crianças assassinadas em nossa cidade, eu digo crianças porque eram verdadeiramente crianças. Não adianta encher uma garrafa de cerveja com água mineral, rotulá-la com o selo da melhor cerveja do mercado, colocar tampa de cerveja e servi-la como cerveja, porque a água que está dentro dela jamais deixará de ser água. Naquelas crianças a vida foi antecipada: é como se o mundo logo tivesse tornado-as adultas, logo tivesse envelhecido-as e elas já morreram. Crianças colocadas em situação de risco, crianças de famílias que deixaram Deus do lado de fora da porta.
Precisamos nos envolver com nossos filhos! Se você não tem tempo, arranje. Se você não acha isto importante, reavalie. A responsabilidade de criar filhos é de pai e mãe, e nossas crianças mais do que nunca, precisam de nós!!
Ronaldo Lessa
Médico e integrante da UBE-PE
Diário de Pernambuco - 12 de Junho de 2003
Parceria com os Professores
Revista Claudia
Cuiabá, 13 de Fevereiro de 2004
Senhores Pais,
Parceria com os Professores
Pais e escola aliados são fundamentais na educação. O sucesso depende do envolvimento de todos!
Construir um bom relacionamento com a professora (ou professor) é o primeiro passo para que a educação seja eficiente. Para começar bem, procure conhecê-la logo nos primeiros dias de aula. Conte a ela tudo que julgar necessário sobre seu filho e mostre-se disponível para conversar quando for preciso. No decorrer do ano, comunique qualquer acontecimento que possa vir a interferir no comportamento da criança. Viagem, mudança de casa, separação, morte ou doença na família são alguns dos exemplos que costumam abalar a vida dos pequenos. Sempre que possível, tente participar das reuniões na escola, comparecer às festas e envolver-se nos preparativos das atividades.
Currículo, método de ensino, dever de casa, dificuldades de aprendizagem. As queixas e críticas que normalmente surgem em relação à escola não são poucas. Quando o problema aparecer, cheque os fatos antes de tirar conclusões ou estabelecer culpados. Lembre-se de que em casa seu filho pode comportar-se de uma maneira e na escola de outra. A troca de informações entre você e a professora irá ajudá-las a traçar um plano de ação para a criança superar as dificuldades.
Para que dê tudo certo, planeje a reunião. Determinar o objetivo da conversa e redigir as perguntas são procedimentais que funcionam. Fale também com seu filho, deixando-o expressar os sentimentos sobre o assunto. Exponha o problema e peça a ele sugestões para resolvê-lo. Evite criticar a professora na frente das crianças. As muito pequenas costumam idealizá-la e acabam sofrendo, pois querem ser leais a ela. As mais velhas podem utilizar seus argumentos para alimentar comportamentos rebeldes e grosseiros.
O próximo passo é marcar o encontro informando qual será o tema. Se possível, pai e mãe devem participar. Muitas vezes, um está mais inflamado, e o outro pode colaborar de forma objetiva. Além disso, a presença de ambos demonstra que toda a família está envolvida.
Seja Positiva
Na reunião, procure manter uma atitude calma e positiva acolhendo sugestões e aproveitando para oferecer idéias.Tenha em mente que você e a professora possuem diferentes expectativas e percepções da criança. O mais importante é sair do encontro com uma estratégia definida para reduzir ou eliminar as dificuldades apontadas.
Quando chegar em casa, conte a seu filho o que foi acertado. Ele deve ser informado sobre as mudanças que talvez venham a ocorrer. Deixe claro que cada um - você, ele e a professora - vai precisar fazer a sua parte para modificar a realidade e vencer os obstáculos. Certamente o seu envolvimento irá ajudá-lo a compreender que estudar exige esforço, mas é essencial.
REVISTA CLAUDIA - EDUCAR BEM
A coordenação
Pais Devem ser Coerentes em suas Atitudes com os Filhos
Pitágoras em Rede
Cuiabá, 18 de Fevereiro de 2004
PAIS DEVEM SER COERENTES EM SUAS ATITUDES COM OS FILHOS
Os pais querem o melhor para seus filhos; esse é um ponto inquestionável. Mas as dúvidas aflorem no momento em que são chamados a agir com firmeza, impondo regras e limites. "Queremos o melhor para eles, mas esbarramos em nossa limitada experiência de vida, que nunca foi democrática e libertadora, e na confusão de informações que recebemos, muitas vezes contraditórias, dos estudiosos do comportamento humano e da educação. Temos de superar tantas coisas pelas quais passamos para tentar formar um filho melhor do que nós, não é mesmo?" pondera Rosely Sayão.
Segundo ela, os pais devem buscar a coerência em suas atitudes, mostrando aos filhos as conseqüências de seus atos. A psicóloga também salienta que os pais podem "remar contra a maré" ao defenderem seus princípios e dá um exemplo importante:"hoje, as mães que querem uma filha vestida como criança têm dificuldade para se virar. As sandálias de salto alto para meninas de cinco anos são apenas um sinal de que a infância está sendo assaltada pelo mundo adulto por todos os lados. "Rosely afirma com veemência que o papel dos pais, nesse sentido, é fundamental e afirma: "A coisa mais importante na vida da criança continua sendo a brincadeira. E, para isso, ela precisa estar à vontade e ter tempo. Não é pequeno o número de pais que oferecem essas condições aos filhos. Para que eles continuem a árdua empreitada, é bom saber que não são minoria, que não estão sozinhos. Para os que já desistiram, é bom saber que, apesar do trabalho exigido, dá pra remar contra a maré".
Veja se você está agindo corretamente com seus filhos
Com relação à questão dos limites, constante motivo de angústia para os pais, Rosely Sayão destaca, em seu livro, a relevância desse tema, enfatizando alguns aspectos destacados a seguir:
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Pitágoras em Rede
Belo Horizonte,agosto/setembro de 2003
Ano 5 - Nº 17
A Coordenação
Drogas: É possível prevenir na infância!
Drogas: É possível prevenir na infância!
Revista Linha Direta
Prosseguindo as reflexões registradas no último número desta revista, é bom lembrar que estamos falando de prevenção. Estamos falando de infância. Nada referente a problemas já instalados, que merecem outro tipo de enfoque e tratamento. Vejamos como praticamente tudo aparece na infância. Claro, porque nenhum problema nasce grande. Enxergá-lo no nascedouro é deter um processo antes de seu desenvolvimento. Focalizando o futuro, os problemas da juventude devem ser encarados na infância, ali onde se gestam. Um dos traços que mais caracteriza o adolescente candidato à dependência química é a tendência constante a viver fora do contexto de sua realidade. Imagina em excesso e fala mentiras como se estivesse dizendo que dois e dois são quatro. Evidência clara de que quer fugir da realidade. É que a realidade lhe exige esforço, disciplina, obediência, trabalho, estudo... Por isso prefere o ócio, a inércia, os vôos quiméricos. Nada de batalhar duro. Ideais? O que são ideais para quem não quer nada com a dureza? Talvez aprenda algum dia, em alguns casos tarde demais, que “quem vive sem um ideal leva a morte sobre os ombros”. Como surge na infância um quadro tão preocupante? Não importa que seja o Joãozinho, a Mariazinha, ou o Zezinho...ou, enfim, qualquer criança que esteja dando seus primeiros passos neste mundo. Tudo é novidade, tudo é descoberta. O mundo lhe está sendo apresentado. Esse é o momento em que se pode começar a preparar o futuro: o do homem ativo, que venha a construir uma vida construtiva, fértil e útil à sociedade em que vive. Diferentemente dos animais, que já nascem sabendo quase tudo que diz respeito às suas perspectivas de vida, é quase nada o que sabe deste mundo o ser humano que se inicia nesta vida. Tudo é motivo de aprendizagem. Aprendizagem que, muitas vezes, custa esforço, empenho, persistência. É muito comum ver a criança que se resiste a esses três elementos, que são básicos em qualquer aprendizagem. Os pais têm a possibilidade de abrandar-lhe o caminho, até mesmo fazer as coisas por ele, deixá-lo entregue à própria sorte... ou, diferentemente, estar a seu lado, ensinando-lhe com paciência, com amor. Coisas simples. Por exemplo: amarrar os próprios tênis. Tarefa difícil para a criança com seus quatro anos. Mas possível de ser aprendida. A mãe manda calçá-los, a criança enfia os pezinhos e pede que ela amarre os cadarços. Solícita, a mãe cumpre rapidamente a tarefa para o filho. Bondade? Sem perceber, ela tira da criança a oportunidade de desenvolver sua coordenação motora fina, o que poderia vir a facilitar tanto a sua aprendizagem da escrita... Mas esse não é o problema maior. Perde a grande oportunidade de ajudá-la a desenvolver sua capacidade de esforço, de empenho e de persistência. Uma vez, duas, três, dez, vinte vezes: um lacinho pra cá, um lacinho pra lá, agora passe um dentro do outro... |
E a criança que tem a mãe, o pai, a babá, o irmão mais velho, todos fazem por ela quase tudo, e ela vai se tornando preguiçosa, acomodada: claro que não vai ficar com os tênis desamarrados! O mesmo se aplica a tudo o mais que diga respeito à aprendizagem geral da criança: guardar os brinquedos depois de brincar, tomar banho sozinha, alimentar-se, fazer seus deveres, pentear os cabelos, vestir-se, arrumar a própria mochila, etc. Tenhamos sempre em conta que “O esforço é vida; é um constante provar a capacidade de produzir, de fazer, de realizar”. Não tiremos de nossas crianças, portanto, essa parte de vida. Permitamos que elas experimentem a alegria do triunfo; que sintam capazes, que conheçam as dificuldades e tenham pontos de referência para julgar o que devem fazer diante delas. Isso tudo faz lembrar um texto, de autor desconhecido, que nos fala sobre “A Lição da Borboleta”. Conhecido que já seja, vale a pena relembrá-lo aqui em toda a sua beleza: Um dia, uma pequena abertura apareceu num casulo. Um homem então se sentou e se pôs a observar a borboleta por várias horas, atento a como ela se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco. Então, teve a impressão de que ela parou de fazer qualquer progresso. Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia e não conseguia ir além. Então o homem decidiu ajudar a borboleta: pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta saiu facilmente. Mas seu corpo estava murcho,era pequeno e tinha as asas amassadas. O homem continuou a observá-la, pois esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e se esticassem para serem capazes de suportar o corpo, que iria se afirmar com o tempo. Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar, não compreendia era que o casulo apertado e o esforço necessário da borboleta para passar através da pequena abertura eram o modo com que Deus fazia com que fluido do corpo da borboleta fosse para as suas asas, de modo que ela estaria pronta para voar uma vez que estivesse fora do casulo. Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossas vidas. Se Deus nos permitisse passar através de nossas vidas sem quaisquer obstáculos.
Revista Linha Direta, Cuiabá, 01 de Junho de 2004 |
A Prática da Leitura Começa em Casa
Cuiabá, 14 de Março de 2006
A Prática da Leitura Começa em Casa
Mais do que métodos e técnicas de motivação para ler, são necessárias providências que se relacionem á história do aluno na sociedade, principalmente em sua família. Não se pode separar a prática da leitura da vida em família e na comunidade. Não é uma questão a ser resolvida apenas na escola e pela escola.
Enquanto lemos, vivemos uma experiência transformadora. Nossa mente tem várias funções, entre elas a memória, a atenção, a sensibilidade, e os diferentes tipos de raciocínio. Afinal, com o processo mental operado ao ler, a pessoa transforma seu modo de ser e de ver o mundo e de interagir com ele.
Embora a escola incentive e deseje a leitura, dificilmente forma o leitor, se não tiver o apoio dos pais. Isto, porque as relações sociais, na família, são espontâneas, envoltas em emoções partilhadas e valores afirmados e/ou vivenciados por todos. Pais, avós, irmãos têm histórias de vida em conjunto e influem fortemente sobre os filhos, desde sua mais tenra idade, principalmente por suas atitudes, gestos e práticas em diferentes circunstâncias.
Na escola há um currículo a ser cumprido, uma hierarquia, há direitos e deveres, e a escola não consegue, de forma alguma, substituir a família na formação de valores; pode colaborar com ela. Ela propõe, sugere, procura o apoio dos pais, mas é dos pais, avós e parentes próximos que vem a grande energia, a colocação de limites, a valorização do esforço, em favor do futuro de seus descendentes.
Laços com a leitura
Como diz Humberto Maturana, biólogo do conhecimento: nem todas as relações humanas são do mesmo tipo. Para ele, há relações sociais quando se aceita e ama a outra como ela é e se importa com sua vida como um todo. Isso acontece na família. Nas relações de trabalho, há interesses específicos. O mesmo ocorre com as relações hierárquicas, em que há relações de poder e de obediência, por veladas que sejam. Para Maturana, sem ações de aceitação mútua não somos sociais.
Como o ser humano se entrelaça pela linguagem e pela emoção a outros seres humanos, motivos lógicos não bastam para leva-los a agir em certa direção, ou se o que fala e o que escuta o fazem a partir de diferentes emoções. É importante que o estudante tenha seu emocional sintonizado à leitura como um valor, algo vinculado a suas aspirações e a uma auto-imagem positiva, meio de realização de suas possibilidades. Pais, professores da Pré-Escola e do Ensino Fundamental são os responsáveis por criar definitivos laços da criança e do adolescente com a leitura.
O estudante se pergunta: para que vai servir ler essas obras? Como vai influenciar no meu dia-a-dia? O fato é que, a cada leitura, há respostas interiores, há um novo ser, revestido de mais sabedoria. Vai amadurecendo sua personalidade, criando novos projetos de estudo, tomando gosto por diferentes assuntos, afinal construindo seu eu.
Influências
A maneira como a família e a escola, em suas séries iniciais, cooperam para essa prática marcará o futuro intelectual do jovem nas séries seguintes, no Ensino Médio e superior. Pais que compram livros para seus filhos, que conversam sobre a obra lida, com freqüência têm mais chances de ter filhos estudiosos e bem sucedidos profissionalmente, no mundo intelectual. Isso porque o amor, a justiça, o respeito, o carinho não são elementos abstratos, eles são domínios da ação entre as pessoas que convivem e que se interessam umas pelas outras. Quando a criança é pequena, a mãe coloca-a no colo e lê para ela ouvir; a leitura vem associada a todo esse gesto de bem-querer. Se a família moderna colocar esse valor em prática, assim como coloca a televisão ou a internet, vai obter como resultado bons leitores.
A família é um ambiente de muita conversação e consenso, de partilha de emoções e de diálogos, confidências; e a adolescência é o tempo de maior aceitação de influências. Por isso a escola precisa das famílias, para que atuem em favor da valorização da prática da leitura diária (de jornais, revistas, livros).
Quando os pais conversarem mais com os professores para melhor participarem da vida de estudante de seus filhos, a leitura terá um momento especial, não só os exercícios de Física, Biologia, Química, Matemática, História, Geografia ou Gramática.
Tornar o filho um bom leitor é pensar que esse será seu modo de crescer e aprender, mesmo depois de sair da escola, como indivíduo mergulhado na comunidade, com sua profissão, seus deveres e direitos de cidadão.
Se os pais derem as mãos aos professores, aí sim, a escola se tornará mais família e a família, mais escola. O resultado virá para todos os envolvidos.
Fahena Porto Horbatiuk,
Mestre em Lingüística e Professora da Face -
União da Vitória, PR
Endereço eletrônico: prof.fahena@face.br
Revista Mundo Jovem/Fevereiro-2006
Sexo, Energia Para Ser Valorizada Na Escola
Educar sexualmente significa orientar a criança para que passe pelas fases de evolução de sua sexualidade de forma que sua vida afetiva se estruture de modo sadio. Ajuda a criança e o jovem a encontrar uma forma de satisfazer seus impulsos e superar as tensões do ambiente. Favorece um ajustamento do indivíduo consigo mesmo, livrando-o da ansiedade que desvia suas energias, inclusive dos estudos. Ou seja, muitas crianças e jovens ocupam seu tempo procurando entender o que está acontecendo com o seu corpo e com a sua mente. A informação gradual e adequada os ajudará a vencer essa ansiedade natural provocada pelo próprio desenvolvimento.
Educação Sem Medo
Uma educação sexual adequada oferece condições para que a criança e o jovem assumam seu corpo e sua sexualidade com atitudes positivas, sem medo ou culpa, preconceito, vergonha, bloqueios ou tabus. Favorece o crescimento exterior e o interior, em que há respeito pela sexualidade do outro, responsabilidade pelos próprios atos e direito a sentir prazer, emocionar-se, rir ou chorar, enfim, viver de forma sadia. Possibilita ao jovem desenvolver-se com confiança, graças às respostas obtidas a seus questionamentos e ao espaço que lhe é dado para criticar, transformar valores e participar de seu ambiente social.
A educação sexual se caracteriza por ter de estar continuamente adequada às necessidades do jovens que vivem num mundo em constante mudança. Por isso é informal e contínua: todos se educam e se reeducam continuamente. Ou seja, as pessoas estão sempre se analisando e se avaliando, estão sempre percebendo e escolhendo uma forma harmoniosa de viver de forma sadia. Possibilita ao jovem desenvolver-se com confiança, graças ás respostas obtidas a seus questionamentos e ao espaço que lhe é dado para criticar, transformar valores e participar de seu ambiente social.
A educação sexual se caracteriza por ter de estar continuamente adequada ás necessidades dos jovens que vivem num mundo em constante mudança. Por isso é informal e contínua: todos se educam e se reeducam continuamente. Ou seja, as pessoas estão sempre se analisando e se avaliando, estão sempre percebendo e escolhendo uma forma harmoniosa de viver, estão sempre decidindo a sua conduta e buscand0o prazer e uma forma responsável de amar. Além disso, todos estão sujeitos ao processo de educação sexual, em qualquer faixa etária e em qualquer lugar, consciente ou inconscientemente. Vivemos em um mundo erotizado e temos que continuamente elaborar o que vemos ou ouvimos e formar uma opinião pessoal – é um tipo de educação dinâmica, constante mutante e sempre presente!
Formas de Educação Sexual
Desde que nascemos começamos a receber educação sexual, seja pelo nome que nos dão (nome de homem ou de mulher), seja pelo modo com que nos tratam, nos vestem e nos presenteiam. No decorrer do crescimento vamos percebendo esses códigos e passamos a assimilá-los de forma indireta, como informação não-verbal. Informação não-verbal é aquela que se realiza sem precisar dizer nada, porque é fruto da observação da própria criança. Faz parte de um conjunto de códigos que a criança aprende como parte de seu processo educativo.
A educação sexual por meio de informação verbal é aquela em que a palavra aparece, seja por parte da criança ou por parte dos pais, educadores ou outros. A criança verbalizará sua pergunta, geralmente depois de muito observar, por não ter conseguido concluir sozinha ou para conferir suas conclusões pessoais. Muitas vezes perguntará uma coisa para tentar descobrir outra.
As respostas dos adultos devem ser simples, claras e verdadeiras, além de adequadas á idade da criança ou do jovem. E é preferível falar pouco, pois se ela desejar maiores explicações, sabe que o diálogo já está estabelecido, que sempre terá um canal de comunicação aberto para esse assunto.
A informação não-verbal e a informação verbal familiar fazem parte do que se chama de “educação sexual informal”. A educação sexual formal é sistemática, segue um planejamento com conteúdos programados, tem estratégias próprias e cunho científico. É realizado por meio de aulas, palestras, discussões, estudos de casos, dramatizações, vídeos e outros recursos didáticos, e faz parte dos temas transversais previstos pelos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), recebendo a denominação de Orientação Sexual.
Além disso, os educadores precisam ter claro o conceito de formação e informação: formar é despertar na criança e no jovem aquela energia interior que os torna capazes de lutar e conquistar o equilíbrio. Faz também com que enfrentem as derrotas e as vitórias para se tornarem adultos equilibrados, responsáveis e, sobretudo, livres, mesmo em um contexto em que os valores morais têm pouco sentido. A formação depende da informação, dos conteúdos verbais trocados entre educando e educador. Assim, à medida que responde às perguntas científicas, o educador provoca uma reflexão sobre comportamentos, metas de vida, opiniões pessoais, para que o educando crie um ponto de vista próprio.
Hália Pauliv de Souza,
Escritora e palestrante, autora do livro “Sexo”,
energia presente em casa e na escola”,
edições Paulinas (entre outros). Curitiba,PR.
Endereço eletrônico: ohs@voe.com.br
Revista Mundo Jovem/Fevereiro-2006
Irresponsáveis e Incompetentes
Não, hoje não falo de políticos nem de governantes, mas de nós, todos nós, seres humanos: somos um bicho muito estranho.
Se fôssemos uns burgueses instalados e resolvidos, não seríamos tema de arte nenhuma e de nenhuma reflexão, nem mesmo desta colunista. Do jeito que somos, porém, muitas vidas seriam insuficientes para tanta perplexidade, raiva e ternura diante dessa coisa desamparada e incoerente que somos.
Vivemos mergulhados em mistério: nem a ciência mais sofisticada consegue explicar inteiramente nossa origem e nosso destino. O medo e o assombro marcam nossa trajetória de crianças assustadas diante da realidade cruel: em boa parte, somos responsáveis por nosso presente, nosso futuro, nossas escolhas e pelas pessoas a quem amamos.
Não somos deuses: por isso, não podemos evitar fatalidades. Em bom português, nem quando se trata de nossos filhos podemos evitar que eles quebrem a cara no aprendizado de sua própria vida. Ao contrário, é bom deixá-los com a liberdade essencial para fazer escolhas, mesmo erradas e ir construindo seu destino.
Mas somos infantis, cheios de preconceito e medo, com idéias tortas ou vagas. Estamos cheios de teorias mal interpretadas e pessimamente aplicadas sobre como fazer (ah, os patéticos manuais de vida sexual...), parir e criar esses que o destino entrega a nós, o mais frágil de todos os animais.
As teorias falseadas, somadas á nossa insegurança e medo, resultam em falta de naturalidade e na negação da voz interior chamada bom senso, que dispensaria muitas receitas e tolices. A responsabilidade assusta e pode paralisar, sem esse ingrediente essencial que é o instinto profundo de proteger, de amar, de ajudar a crescer esse outro tão nosso e tão fora de nós.
O que vemos são crianças e adolescentes tendo em casa um “gato” sarado e uma “gatinha” aflitamente sensual – em lugar de pai e mãe: dois amigões sem autoridade nem segurança. Em quem vão confiar nossos filhos?
Falo de jovens que usam álcool ou outras drogas, muitas vezes com a ciência dos pais que se omitem. Como recusar, como proibir, se eles próprios usam e abusam? Se estão ocupados com outras coisas, ignorantes do que se passa em sua casa? Se têm medo de contrariar os filhos e perder seu amor...como se amor se comparasse com permissividade ou dinheiro solto?
Falo aqui de quase crianças, que celebram recordes de beijos na boca com os mais variados parceiros numa só noite, em festinhas idiotas, enquanto pais e mães acham graça. Toda uma geração adulta irresponsável ignora não só as doenças infecto-contagiosas que assim se adquirem (que o digam os pediatras), mas também a prematura excitação sexual mal dirigida e mal digerida, deixando os pobres lesados na hora da bela aventura existencial que é o sexo, hoje tão banalizado.
Falo dos jovens, alguns quase crianças , que fazem roleta-russa nos rachas em nossas ruas ou em caronas com outros jovens drogados (álcool também é droga), cujos pais depois os buscarão no necrotério, roídos de culpa e de horror.
Tendo filho, a gente é responsável. Com limitações naturais, mas gravemente responsável, sim, senhores. Mas quem hoje está maduro para ser pai e mãe, quem consegue esquecer seus próprios dramas fúteis para se dedicar, para abrir espaço de ternura, para exercer a autoridade conferida pela natureza, quando sociedade e cultura falam em liberdade total como se ela garantisse vida e crescimento?
Ando cansada de certos assuntos, e o desleixo com que tratamos nossos filhos é um deles. Pais com medo dos filhos, professores com medo dos alunos, filhos e alunos, jovens de todas as idades, perdidões porque não têm em quem confiar, a quem atribuir a autoridade necessária, a quem respeitar e obedecer.
O século da bagunça generalizada começou há poucos anos: que não seja o século do fim definitivo da verdadeira infância e juventude, quando se tem pai e mãe em cuja mão segurar para não tropeçar demais, cedo demais, com feridas definitivas e males incuráveis, na ante-sala da prematura morte.
Lya Luft
(22 de fevereiro, 2006 Revista Veja)
É Bom Começar Cedo
Pesquisa mostra que freqüentar o jardim-de-infância tem efeito positivo ao longo da vida escolar
Saiu uma pesquisa que ajuda a esclarecer uma questao angustiante da maternidade: mandar os filhos ainda pequenos para a escola pode ser uma má decisao? O estudo chega a duas conclusoes sobre o assunto. A primeira serve de alerta aos pais que optam por deixar os filhos longe das classes de jardim-de-infância - e é um alívio para as maes que trabalham fora: ingressar cedo na escola nao só nao é prejudicial ás crianças como costuma ter conseqüencias positivas no aprendizado a longo prazo. Nao é a primeira vez que um trabalho academico descortina os efeitos benéficos da escola nos primeiros anos de vida. O mérito do atual estudo foi demonstrado isso por meio do mais detalhado banco de dados já produzido sobre o assunto. Patrocinados pelo governo americano, os pesquisadores monitoraram 1300 crianças, da maternidade aos 12 anos, a cada quatro meses. A metade delas ficou em casa até os 5 anos, entregue aos cuidados da mae ou de uma babá, enquanto a outra parte freqüentou a escola. Até a chegada da pré-adolescencia, os dois grupos foram submetidos a provas para medir o desempenho escolar. Resultado: os estudantes enviados ao jardim-de-infância antes do ensino fundamental se saíram melhor em todas as disciplinas testadas. Resume o psicólogo James Griffin, um dos autores do trabalho: " Está claro que ir a escola no princípio da vida faz parte de um conjunto de fatores que definem o sucesso nos estudos".
O segundo dado valioso da pesquisa joga luz sobre outra dúvida comum aos pais: a melhor idade, afinal, para matricular os filhos. Muitas famílias protelam essa decisao até as vésperas do ensino fundamental, por volta dos 6,7 anos. O trabalho revelou, no entanto, que é a partir dos 3 anos que a escola passa a ser mais proveitosa. Antes disso, o que mais pesa em favor do desenvolvimento intelectual das crianças sao o afeto e a atençao individual - nao importando se vem de casa ou da creche. Depois dessa fase, estar num ambiente com outros adultos e crianças funciona como alavanca ao aprendizado - e isso repercute ao longo do restante da vida escolar. Eis um exemplo extraído da pesquisa americana: aos 12 anos, os estudantes que haviam freqüentado a pré-escola apresentavam vocabulário mais rico do que o restante da turma. Uma das explicaçoes, defendida por esses e outros especialistas, é que, ao se limitar ao contato com a mae ou babá, a criança toma familiaridade com um único jeito de se expressar e tende a se concentrar no vocabulário mais empregado em casa. " A escola, por sua vez, a expoe a diversidade", afirma Griffin.
O que resta aos pesquisadores compreender melhor sao as conseqüencias do ingresso na escola para o desenvolvimento emocional. Nesse campo, está claro que uma passagem pelo jardim-de-infância favorece a autonomia e antecipa o aprendizado sobre a convivencia em grupo. Outro fato comum as crianças matriculadas na escola antes dos 5 anos chamou atençao no estudo americano: aos 12, elas sao mais agressivas em sala de aula do que os colegas, de acordo com a avaliaçao feita pelos professores com base num conjunto objetivo de questoes. A observaçao sistemática dessas crianças em seus primeiros anos de vida sugere que, na escola, elas se lançam mais cedo á luta por atençao do que aquelas que ficaram entregues aos cuidados maternos (mesmo quando há irmaos em casa). É uma hipótese a ser investigada. O que os especialistas já sabem - e o novo estudo confirma por meio de uma fartura de dados qualitativos - é que o cenário mais favorável ao desenvolvimento pleno das crianças, dos 3 anos em diante, combina dois fatores de pesos semelhantes: um ambiente familiar rico em estímulos e uma boa escola. Conclui o psicólogo Jay Belsky, um dos autores do trabalho: " Os melhores resultados escolares se dao quando a família é parte ativa na educaçao".
Criadas em casa |
Porcentual de crianças que nao freqüentam a pré-escola. | |
INGLATERRA |
23% | |
CANADÁ |
35% | |
EUA |
40% | |
BRASIL |
45% | |
CHILE |
50% | |
CHINA |
64% |
(Camila Antunes, Revista Veja, 18 de abril de 2007
Déficit de Natureza
Cuiabá, 15 de Junho de 2007
Quando eu era criança, sempre estávamos ao ar livre. Fazíamos diques em córregos como pequenos castores. Rolávamos morro abaixo, e moldávamos elaborados cenários com gravetos, seixos e argila para encenar infindáveis histórias. Será que voce também brincou em algum lugar especial e mágico na natureza durante sua infância? Será que essas doces lembranças nao fazem sorrir o coraçao? Percorreremos um longo caminho de lá para cá. Hoje em dia, equipadas com celulares, iPods, PlayStations e Gameboys, as crianças transitaram do natural para o virtual, das montanhas para o Matrix.
É como disse recentemente um menino da 4a série: "Gosto de brincar dentro de casa porque é lá que estao todas as tomadas elétricas"
É claro que a nova geraçao está colhendo diversas vantagens de nossas avançadas tecnologias, e de fato demonstrou-se que o uso do computador e dos videogames proporciona vários benefícios psicomotores e cognitivos. Porém, cada vez mais adultos preocupados estao se perguntando: " Mas a que preço?". O neurologista Frank Wilson, da Escola de Medicina da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, questiona: "Essas crianças sao espertas, elas cresceram com computadores; supostamente deveriam ser superiores - mas agora sabemos que algo está faltando".
Uma das coisas que estao faltando é natureza. Pesquisas na Universidade Cornell em Nova York mostraram que crianças com mais natureza perto de casa tem menos distúrbios de comportamento, menos ansiedade e depressao e mais auto-estima. "Nosso estudo revela que os eventos estressantes parecem nao causar tanto transtorno psicológico nas crianças que vivem em condiçoes em que a natureza é mais presente, quando comparadas aquelas que vivem em lugares com menos áreas verdes", diz a professora Nancy Wells. " Ao reforçar os recursos de atençao das crianças, os espaços verdes podem ajuda-las a pensar mais claramente, e com isso capacita-las a lidar mais eficazmente com o estresse."
Os cientistas sugerem que a natureza pode ser útil como uma terapia complementar ou preventiva para crianças diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atençao e Hiperatividade (TDAH). Pesquisadores suecos compararam crianças em duas creches. Numa delas, o playground era cercado de altos prédios, na outra era num pomar próximo a um exuberante jardim. As crianças na creche "verde", que brincavam ao ar livre todos os dias, independentemente do tempo, tinham melhor coordenaçao motora e maior capacidade de concentraçao. Outros estudos verificaram que o desempenho de atençao para crianças diagnosticadas com TDAH foi melhor após uma simples caminhada de 20 minutos num parque com uma paisagem natural que depois de uma caminhada em áreas residenciais urbanas. O professor Robin Moore, da Universidade da Carolina do Norte, afirma: "Experiencias multissensoriais na natureza ajudam a construir a base cognitiva para o desenvolvimento intelectual".
A atual dissociaçao das crianças da natureza, devido a falta de parques ou espaços verdes acessíveis, preocupaçao dos pais, estilos de vida demasiadamente programados ou falta de interesse, dizem os especialistas, está cobrando seu preço nas altas taxas de distúrbios infantis físicos ou mentais. O futurista americano Richard Louv concorda. Se a "terapia da natureza" reduz os sintomas do TDAH, sugere ele, entao TDAH pode ser um conjunto de sintomas agravados pela falta de exposiçao a natureza - o que chama de "transtorno de déficit de natureza". Diz ele: "Privar as crianças de natureza pode ser equivalente a priva-las de oxigenio".
Susan Andrews, é psicóloga, autora do livro Stress a Seu Favor
Coordena a ecovila Parque Ecológico Visao Futuro e escreve quinzenalmente em ÉPOCA
5 de Fevereiro de 2007 / REVISTA ÉPOCA
A Difícil Arte de Dizer Não aos Filhos
Ninguém melhor do que eu, mãe ou pai como você, para saber o quanto nos é difícil negar coisas a criaturinhas tão fofas e sedutoras quanto os nossos filhos. Sendo de classe média ou alta na maior parte das vezes, temos os recursos para atendê-los e, então, nos perguntamos, o que representa um carrinho a mais, um novo brinquedo? Se temos o dinheiro necessário para comprarmos o que querem, porque não satisfazê-los? Se o nosso filho pediu três pacotes de balas e não um apenas, por que não atendê-lo? Se podemos sair de casa escondidos para que não chorem, por que provocar lágrimas ? Se lhe dá tanto prazer comer todos os bombons da caixa, por que fazê-lo pensar nos outros? Além do mais é tão mais fácil e mais agradável sermos "bonzinhos"... O problema é que ser pai é muito mais do que apenas ser "bonzinho" com os filhos. Ser pai é ter uma função e responsabilidade sociais perante nossos próprios filhos e a sociedade também. Portanto, quando decido negar um carrinho a um filho, mesmo podendo comprar e sofrendo por dizer-lhe "não", porque ele já tem outros dez ou vinte, estou lhe ensinando que existe um limite para o TER. Estou, indiretamente, valorizando o SER.
Quando cedemos a todas as reivindicações, estamos caracterizando uma relação de dominação, estamos colaborando para que a criança depreenda do nosso próprio exemplo o que queremos que ela seja na vida: uma pessoa que não aceita limites e que não respeita o outro enquanto indivíduo. Porque para poder ter tudo na vida quando adulto, fatalmente ele terá que ser um indivíduo extremamente competitivo e provavelmente com muita "flexibilidade" ética. Caso contrário, como conseguir tudo? Como aceitar qualquer derrota, qualquer "não" se nunca lhe fizeram crer que isso é possível e até normal? Não estou defendendo que se crie um ser acomodado, sem ambições e derrotista.
De forma alguma. É o equilíbrio que precisa existir: o reconhecimento realista de que, na vida, às vezes se ganha, e, em outras, se perde. Para fazer com que um indivíduo seja um lutador, um ganhador, é preciso que desde logo, ele aprenda a lutar pelo que deseja sim, mas com suas próprias armas e recursos, e não fazendo com que ele creia que alguém ( os pais, por exemplo) lhe dará tudo, sempre, e de "mão beijada". Satisfazer as necessidades das crianças é uma obrigação dos pais, mas é preciso que distingamos claramente o que são realmente necessidades e o que são, na verdade, apenas atitudes derivadas da nossa própria incapacidade de julgar, subjugados que estamos ao consumismo, à competitividade exacerbada da nossa sociedade, ao individualismo e aos nossos próprios medos e frustrações. Tãnia Zaguri
Estimulando a curiosidade
Crianças que têm contato com música aprendem a ler e a escrever com mais facilidade.
A favor dos videogames
A FAVOR DOS VIDEOGAMES
(Stephen Kanitz)
O cérebro humano é um órgão que absorve quase 25% da glicose que consumimos e 20% do oxigênio que respiramos. Carregar neurônios ou sinapses que interligam os neurônios em demasia é uma desvantagem evolutiva, e não uma vantagem, como se costuma afirmar. Todos nós nascemos com muito mais sinapses do que precisamos. Aqueles que crescem em ambientes seguros e tranquilos vão perdendo essas sinapses, que acabam não se conectando entre si, fenômeno chamado de regressão sináptica. Portanto, toda criança nasce com inteligência, mas aquelas que não a usam vão perdendo-a com o tempo. Por isso, menino de rua é mais esperto do que filho de classe média que fica tranquilamente assistindo às aulas de um professor. Estimular o cérebro da criança desde cedo é uma das tarefas mais importantes de toda mãe e todo pai modernos. Sempre fui a favor de videogames,considerados uma praga pela maioria dos educadores e pedagogos. Só que bons videogames impedem a regressão sináptica, porque enganam o cérebro fazendo-o achar que seus filhos nasceram num ambiente hostil e perigoso, sinal de que vão precisar de todas as sinapses disponíveis. O truque é encontrar bons jogos, mas não é tarefa impossível. O primeiro videogame que comprei para meus filhos foi o famoso SimCity, um jogo em que você é o prefeito de uma pequena vila, e, dependendo de suas decisões, ela pode se tornar uma megalópole ou não. Se você for um péssimo prefeito, a população se mudará para a cidade vizinha, e fim do jogo. Um dia eu estava brincando de "prefeito" quando meus filhos de 11 e 13 anos de idade, analisando meu "planejamento urbano" inicial, balançaram a cabeça em desaprovação: "Pai, daqui a cinquenta anos você vai dar com os burros n'água". Eu, literalmente, caí da cadeira. Quantos de nós, aos 11 anos, tínhamos consciência de que atos feitos na época poderiam ter consequências nefastas cinquenta anos depois? Quantos de nós pensaríamos em prever um futuro para dali a cinquenta anos? A lição que me deram com o famoso videogame Mario Brothers foi ainda melhor. Não tendo a paciência de meus filhos, eu vivia cortando caminho pelos vários atalhos existentes no jogo, quando novamente me deram o seguinte conselho: "Não se podem queimar etapas, senão você não adquire a experiência e a competência necessárias para as situações mais difíceis que estão por vir". A frase não foi exatamente essa, mas foi o suficiente para me deixar com os cabelos em pé. Dois garotos estavam me ensinando que cada etapa da vida tem seu tempo e aprendizado, e nela não se pode ser um apressado. No jogo Médico, as crianças aprendem a fazer um diagnóstico diferencial, a pior das alternativas sendo uma apendicite. Nesses casos, elas têm de operar "virtualmente" o paciente seguindo condutas médicas corretas. Um dos procedimentos é a assepsia da pele, e ai de quem não escovar a pele do paciente, com o mouse nesse caso, por três minutos, o que é uma eternidade num videogame e para uma criança. Quem gasta menos do que isso é sumariamente expulso do hospital por erro médico.Que matéria ou professor ensina esse tipo de autodisciplina? Em A-Train, o jogador é um administrador de empresa ferroviária. A criança tem de investir enormes somas colocando trilhos e locomotivas sem contar com muitos passageiros no início das operações. Aprende-se logo cedo que uma empresa começa com prejuízo social e tem de ter recursos para suportar os vários anos deficitários. Aos 12 anos, meus filhos já tinham noção de que os primeiros anos de um negócio são os mais difíceis, e controlar o capital de giro é essencial. Avaliar riscos e administrar o capital de giro. Como em tudo na vida, é necessário ter moderação nas horas devotadas ao videogame. Mas ele é uma ótima forma de estimular o cérebro da criança e impedir sua regressão sináptica, além de ensinar planejamento, paciência, disciplina e raciocínio, algo que nem sempre se aprende numa sala de aula.